terça-feira, 22 de abril de 2014 | By: Isis Cardoso

Zero.

Era meia noite.

A televisão fazia-lhe companhia na noite solitária. Outra noite solitária, só para variar. Uma xícara de café do lado esquerdo, um álbum melancólico nos ouvidos, um punhado de palavras escorregando por seus dedos e claro, a solidão.
Buscava algo que fizesse sentido em sua vã existência. Sem quatro ou seis cordas correndo por seus dedos, a vida não parecia tão grande coisa assim. O amor era uma realidade muito distante, a tristeza era quase uma constante que disfarçava com um pouco de humor ácido – o que ultimamente não enganava nem a seu próprio semblante. A cada minuto, parecia que o mal alastrava-se em seu corpo e não havia remédio que curasse este mal, nem veneno que pudesse mata-lo.
A música em seus ouvidos dizia que as luzes seriam seu guia para casa e acenderiam seus ossos, mas... o que era a sua casa? Na verdade, o que era seu lar? Não sabia o que era confiável, afinal, não possuía confiança sequer no próprio cérebro. Ele era o vilão de tudo.  Sem ele, seria um ser vegetativo, mas ultimamente a massa cinzenta só ampliava conteúdo negativo dentro de si e aquilo não estava nada bom.
E claro, a solidão se propagava na velocidade do som ou até mesmo da luz. Sempre era veloz demais para tentar pará-la. Era mais veloz que sua vontade de fazê-la parar e ver que a vida talvez pudesse ser um pouco melhor sem ela, suas pernas eram demasiadamente curtas para a ousadia de tentar correr de encontro a cada um de seus medos – e seu principal medo era o mal que afligia todos os dias de sua vida desde que se entendia por gente.


Era só uma noite como todas.

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