Segredo.

Eu tenho um segredo.

Um segredo que se faz real quando fecho os olhos, que aprofunda meu fôlego, que muda meu tom de voz, torna tenro o meu olhar e honesto meu sorriso.

Um segredo que perambula em minha mente, e que me invade desde o momento em que eu acordo, percorrendo todo o dia, até minha mente se esvair e eu cair no sono.

Um segredo que toma meus pensamentos o dia todo, e que se apossa dos meus sonhos, dirige meus devaneios, invade minhas fantasias e penetra meus anseios.

Um segredo que eu guardo com carinho, ternura, atenção e segurança dentro de mim. Para ninguém olhar. Para ninguém tocar. Para ninguém tomar ou mesmo corromper.

Teu amor é o segredo que mantenho com mais esmero, só para mim.

Junto.

Fim de tarde, início de primavera. Só os dois, sentados no chão de concreto. Ela olhava a beleza do mundo, e ele olhava para ela.

- Eu gosto de momentos assim. Esse silêncio, essa brisa de fim de tarde, o céu colorido como uma pintura à aquarela, nós dois aqui... Olha que lindo, amor. - disse ela, deitando-se no chão de concreto e pondo as mãos atrás da cabeça, olhando para o céu.

- Eu só tô vendo um monte de árvore tapando o céu. - respondeu ele, ainda sentado.

- Olha como é lindo. O vento balançando as folhas das árvores, as poucas nuvens se deslocando no céu azul, rosado e alaranjado... Esse tipo de coisa me inspira, faz eu me sentir bem. Tudo bem que o fim de tarde mais lindo é olhando o mar... com o azul do mar mesclando com o do céu no horizonte, e o Sol que parece se esconder por trás do oceano... Mas ... Aqui, assim, é lindo também. - dissertou ela, com um sorriso bobo.

- Ainda só vejo as árvores na minha frente. - retornou ele, indiferente.

- Chega mais pra trás. Olha mais ou menos daqui.  - falou ela, voltando a sentar e puxando-o para perto dela, querendo compartilhar seu ponto de vista.

- Só vejo árvores. - ele tornou a dizer.

- Argh, esquece. - murmurou ela.

E por não ver nada além das árvores... Ele realmente esqueceu. Esqueceu de toda a beleza narrada dos sentimentos dela. E mesmo estando ao seu lado, não estava mais lá. Não estava JUNTO dela.

Improvável

E o que será do que todos querem?

Do que todos precisam,

O que procuram em poemas,

Em teoremas e balcões de botequim?

E o que será do lirismo,

De ver flores onde não existem,

De se embalar em pensamentos até o sono,

De pensamentos inundados o tempo inteiro?

E o que será da expectativa,

Da ansiedade que tira a fome,

O sono, a calma, o controle,

E toda a certeza que se tem?

O que será de viver o sentimento,

De sentir até morrer, ou morrer de sentir,

De compartilhar para a vida inteira, 

De viver mais do que dizer?

O que será do amor,

Que já se tornou banal, 

Que ninguém mais acredita?

Como encontrar o que é de existência improvável?

Sorte.

Simpatia, corrente, sete semanas, novena, figa, pé de coelho, olho turco, número treze, copo d'água consagrado, pai nosso, ave Maria, trevo de quatro folhas, balangandã, patuá, a palavra do pastor, o tarot, a magia, romã, lentilha, não pisar em rachaduras, os búzios da Bahia, o óleo de Jerusalém, sexta-feira, oferendas ao mar, pular sete ondas, fogueira santa, apelo aos santos, consulta aos espíritos, não derramar sal à mesa, evitar gatos pretos, fazer o trabalho na encruzilhada, galinha preta, fubá, pipoca, cachaça, defumador, incenso, meditação, rosa vermeelha, cristais de quarto, feng-shui, não dizer "desgraça" , "infortúnio", "má sina", "má sorte" ou "azar"...

Tudo e muito mais por um pouco de sorte?

Tempo e intelecto gastos em vão. Nada disso importa se você não sabe a sorte que quer ter...ou como quer levar sua vida.