quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012 | By: Isis Cardoso

Solidão



Aquela lufada fria de ar que bate no corpo do recém-nascido assim que ele sai do ventre materno, fazendo-o estranhar tudo ao redor e sentir-se desprotegido, é a solidão... E não se iluda, não é uma breve sensação de diferença climática, e o frio do corpo que toma a alma e assombra-a para sempre.

A lufada de vento frio, que causa mais danos que um furacão, é a certeza do vazio fatídico de alguns seres humanos. Mesmo com centenas de pessoas ao redor, mesmo ouvindo "eu te amo" repetidamente até a frase tornar-se mecânica, mesmo com paixões confusas e palavras bem colocadas... 

O frio e sibilante vento nunca cessa aos escolhidos da solidão.

Onde?

Estou longe de você,
Estou longe de mim,
Estou longe de tudo,
Onde está você, meu bem?
(Você está além de mim, ou de nós.)

Eu vejo as palavras,
Eu vejo as lembranças,
Eu vejo o vazio,
Onde está você, meu bem?
(Você está me partindo por dentro.)

Tão perto das mãos,
Tão longe dos olhos,
Tão longe na alma,
Onde está você, meu bem?
(Seu erro foi me deixar tão livre.)

Você não está aqui,
Você não está aí pra mim,
E sentirá minha falta
Ao perceber que me fui.
(Abra os olhos e me veja partir.)

Estou só no estio,
Estou só no vazio...
E você não está aqui.
Esqueça que eu existo, meu bem.

(EU PARTI.)
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012 | By: Isis Cardoso

Seus Olhos São Ainda Mais Bonitos Em Quarenta Polegadas

Não sei o quê ao certo que me afeta em você, me tira o controle e me faz ensandecer... Eu penso em mil maneiras pra poder te ter, mas não sei se eu consigo.

Todo mundo quer a mesma coisa que eu, todos tão reais diante de meu ser plebeu e eu penso se um dia o teu beijo será meu, mas não sei se consigo.

Então, olho de longe sem nada a acrescentar; olho bem de longe para não incomodar, longe o suficiente para o teu olhar não cruzar com a insegurança do meu.

Não sei porque todos desejam o prazer de ter você, de estar a seu dispor à serviço do seu prazer... Eu penso em mil maneiras para te esquecer, mas sei que não consigo.

Embora todos estejam mais próximos que eu, mais privilegiados que meu pobre ser plebeu que de olhos abertos sonha com um beijo teu, mas não sei se consigo.

Eu insisto, persisto, desisto, mas você me provoca a voltar a insistir em querer o calor da tua pele; e sei que mesmo que todos também queiram, eu vou conseguir.

Risos Ácidos



Risos ácidos escorrem de meus lábios com uma alegria destrutiva e uma melancolia que corroi e traz a cada certeza minha o fim; entre o deslumbramento e o caos, o ar cáustico de meus pulmões traz a meu corpo uma dor que doi demais para mim.

Os meus olhos nebulosos, com as dúvidas que permeiam minha alma através do cotidiano, vão além do que se vê: a tristeza, a alegria, a paz e a agonia, madrugada, tarde e dia, minha mente fantasia com você - mesmo sem saber quem é você.

A acidez no sorriso traz toda a dor por dentro, o som bobo que sai da boca exorciza o sofrimento que me toma cada vez que me perco na escuridão quando vem a noite fria e ninguém me vê; quando não há mais respostas pra tanto porquê o desejo pelo erro cicatriza as mágoas do coração.

Por cada um que se foi e nunca mais voltará, por cada um que não foi - mas eu quero que se vá -, por cada um que eu quis e para quem eu quero agora: em cada sonho plácido em que me procurar todos os risos ácidos terão o seu lugar no meu mundo de dentro e no mundo afora.
sábado, 4 de fevereiro de 2012 | By: Isis Cardoso

Simples

Ele sorria para mim naquela tarde de Sol e tudo parecia mais bonito. Toda aquele brilho em seu olhar, sua timidez desafiadora e suas poucas palavras eram mais do que tudo o que eu já havia visto no decorrer do dia.
Era mais sincero do que qualquer discurso, mais eloquente que qualquer equação, mais completo que qualquer sinfonia que pudesse adentrar meu cérebro através de meus ouvidos.

Ainda havia o resto do dia, o resto do mês, do ano e até mesmo o resto da vida, mas aquele sorriso anulava a importância de todo este resto. Aquilo era a realidade, a beleza de verdade exposta diante de meus olhos. Era a vida faiscando em seu resplendor, a alegria da simplicidade, o momento que se vai antes até de ser percebido.

Ele sorria para mim, com seus três anos de idade e com toda a sua alegria em um copo de refrigerante. E eu sorria para ele e resgatando a beleza que há em ser feliz em algo simples.


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012 | By: Isis Cardoso

Açoite

Mais uma noite mal dormida pela frente, 
Com o teu beijo apenas em minha mente,
Sem ocorrência alguma de tal fato,
Sem consumar minha vontade de tal ato.

Mais uma vez, abraçarei o travesseiro
Sem o calor de tua pele, sem teu cheiro.
Apenas com o anseio de que aconteça,
Com teu sorriso preso em minha cabeça.

Mais uma noite em que suspiro,
Que depressa eu respiro
No delírio do desejo

Que termine esse açoite
E que só por uma noite
Eu possa provar teu beijo.