sábado, 13 de setembro de 2014 | By: Isis Cardoso

Café.

Não parecia que havia se passado apenas uma semana; do topo do mundo ao fundo do poço em uma trajetória de sete dias. Assentou-se à mesa da cafeteria e se pôs a pensar, pela milésima vez no ano, em uma explicação possível para todas as investidas emocionais de sua vida darem errado.

A princípio, tudo parecia quente e reconfortante, mas descia deixando o gosto amargo da rejeição nos lábios. Não era o café, era a vida. Só queria olhar aqueles olhos castanhos para dividir a vista do por-do-Sol ou das luzes artificiais tocando a face das águas do lago em um princípio de noite como o da semana anterior.

Os fios alaranjados haviam incinerado sua alma, e o fósforo fora aquele sorriso encantador. No entanto, a pergunta havia sido apenas para constar... Não havia interesse em seus gostos posteriores como filmes, bandas, aspirações profissionais ou qualquer uma das coisas que são arguidas quando se há o interesse nos hábitos de outrem.

Não foi uma chance, e o mesmo fogo que trouxe calor a seus pensamentos fora o que transformou suas expectativas em cinzas. O corpo era pequeno, mas as chances eram ainda menores. Desistir era a única opção, mesmo que isso descesse com amargor...

Como o café.
quarta-feira, 23 de abril de 2014 | By: Isis Cardoso

Muito Longe De Mim

Noites em claro passo
Tentando te encontrar,
Nem que seja nos meus pensamentos.

Sentimentos estranhos
Estão sempre a me cercar
e o medo se aproxima em momentos.

Hoje você está
Muito longe de mim, 
Mas quem sabe, um dia,
Não seja mais assim.

Mesmo que num instante,
Eu quero ter você
 E te guardar pra sempre, 
Meu bem querer.
terça-feira, 22 de abril de 2014 | By: Isis Cardoso

Zero.

Era meia noite.

A televisão fazia-lhe companhia na noite solitária. Outra noite solitária, só para variar. Uma xícara de café do lado esquerdo, um álbum melancólico nos ouvidos, um punhado de palavras escorregando por seus dedos e claro, a solidão.
Buscava algo que fizesse sentido em sua vã existência. Sem quatro ou seis cordas correndo por seus dedos, a vida não parecia tão grande coisa assim. O amor era uma realidade muito distante, a tristeza era quase uma constante que disfarçava com um pouco de humor ácido – o que ultimamente não enganava nem a seu próprio semblante. A cada minuto, parecia que o mal alastrava-se em seu corpo e não havia remédio que curasse este mal, nem veneno que pudesse mata-lo.
A música em seus ouvidos dizia que as luzes seriam seu guia para casa e acenderiam seus ossos, mas... o que era a sua casa? Na verdade, o que era seu lar? Não sabia o que era confiável, afinal, não possuía confiança sequer no próprio cérebro. Ele era o vilão de tudo.  Sem ele, seria um ser vegetativo, mas ultimamente a massa cinzenta só ampliava conteúdo negativo dentro de si e aquilo não estava nada bom.
E claro, a solidão se propagava na velocidade do som ou até mesmo da luz. Sempre era veloz demais para tentar pará-la. Era mais veloz que sua vontade de fazê-la parar e ver que a vida talvez pudesse ser um pouco melhor sem ela, suas pernas eram demasiadamente curtas para a ousadia de tentar correr de encontro a cada um de seus medos – e seu principal medo era o mal que afligia todos os dias de sua vida desde que se entendia por gente.


Era só uma noite como todas.