sexta-feira, 23 de novembro de 2012 | By: Isis Cardoso

Lufadas.

A essa hora, você deve estar pensando nos outros braços que você vai enlaçar,
Na outra boca que vai provar o seu beijo, na outra pele que suas mãos vão tatear.

Enquanto isso, escrevo um texto, aqui distante, por sequer ter coragem de ir te olhar...
Dinheiro nem tanto é o problema, o dilema é o que vai me assombrar.
O teu nome disperso pelas paredes da cidade, sussurrado pelas lufadas de ar.
Alguém que não te quer tanto quanto eu te quis em breve estará ocupando o meu lugar.

O meu problema é sentir a tua falta, o meu problema é ainda te procurar
Tendo de volta uma resposta fria, sem nem um sorriso pra me aliviar.

Queria tanto esquecer, de dentro de mim tirar
O sorriso que tanto provoquei, o abismo do teu olhar.
Mas, em vez disso, sofro com as memórias de uma canção a ressoar.

"Não, eu não quero lembrar.
Eu não quero lembrar que eu fui pra você uma simples distração pra você esquecer, eu não quero lembrar que chegamos ao nosso fim.
Eu não quero lembrar que eu vou acordar sabendo que meus olhos não vão te encontrar, eu não quero lembrar que tudo acabou pra mim.
Vou te esquecer.
Por que você insiste em me dizer que ainda existe vida sem você?"

(trecho extraído de "Não quero lembrar" - Fresno)

terça-feira, 20 de novembro de 2012 | By: Isis Cardoso

Estratégias.

Iniciar novo jogo.

As peças são as mesmas, no entanto, a jogabilidade é mais árdua que o esperado.

No início, era só avançar; mas a cada movimento errado, uma perda no tabuleiro. Logo, os erros foram mais graves que os acertos e comprometeram as defesas.
A simplicidade se foi, mas restava a mobilidade, a força, o apelo divino e o dinamismo para virar o jogo.

Uma a uma, as táticas se desgastaram. A mobilidade se cansou, a força ruiu, o apelo divino foi contra e, sem suporte, o dinamismo era inválido perante um campo inimigo impenetrável.
Parecia fácil. Parecia amor, mas foi xeque-mate.

Iniciar novo jogo.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012 | By: Isis Cardoso

Encontro

Pequena e doce, ela sorri para mim com seus olhos brilhantes e seu sorriso brincalhão. Não sei se ela sabe quem eu sou, mas eu sei exatamente quem ela é.
Olho para baixo para ver se há algo de errado -ou até mesmo certo demais- comigo. Visto uma camiseta cinza, com uma camisa xadrez vermelha aberta e com as mangas dobrada até o cotovelo , cobrindo até o cós da calça jeans. Procuro ver se há algo errado com meus sapatos...mas estou descalça! E ela também, embora não se importe muito.
Ela veste um conjunto de listras verticais, e seus cachos tingidos de loiro estão presos em um grande e espesso rabo de cavalo. Parece gostar da sensação dos pés no chão de taco; parece também gostar de meus cachos ruivos tingidos repousando em meu ombro direito. Sorrio para ela, mas ela parece se espantar com meus bráquetes... Não são feios, apesar de eu não gostar deles.
Ela corre e logo volta, com um óculos na mão. Põe o óculos e sorri para mim, como se quisesse fantasiar-se de intelectual ou algo do tipo, o que me causou uma gargalhada.

"-Eu te conheço." - Ela disse.
"-Eu sei."-respondi com ternura
"-Sabia que eu tenho uma gaita?" - Ela me perguntou
"-Sério?! Nossa, eu não sei tocar gaita."
"-Ah, poxa... Mas é legal, pena que minha mãe não gosta de me ouvir tocando."
"-Relaxa, um dia ela vai ver que você leva jeito."
"-E você, leva jeito?"
"-Um pouco, sim."
"-Você tem um namorado?"

Abaixei os olhos. Havia me esquecido de como era essa sinceridade espontânea. Ela percebeu que eu fiquei triste, até que eu respondi:

"-Não... Não é fácil isso de ter um namorado."
"-Mas já teve?"
"-Alguns, sim."
"-Deve ser legal, né?"
"-É... Uma parte, sim. Mas as pessoas são estranhas."
"-Estranhas como?"
"-Estranhas. Igual cuscuz"
"-Eca, odeio cuscuz." - disse ela, mostrando a língua
"-Eu sei."
"-Você é legal."
"-Não muito... Mas agradeço mesmo assim."

Ela me olhou por alguns instantes, dessa vez com o rosto sério. Parecia faltar-lhe algo, pois seus olhos castanhos, outrora faiscantes, pareciam vazios.

"-Que houve?"
"-Não sei também. Me deu vontade de ficar quieta, do nada."
"-Acontece."
"-Eu vou te ver de novo?"
"-Não sei."
"-Eu queria te ver de novo, você é legal."
"-Você que é, e esses óculos também."
"-São do meu irmão, mas não conta pra ele." - cochichou
"-Uhum" - respondi, piscando o olho.
"-Fica aqui."- ela me pediu.
"-Desculpa."- eu disse, olhando para as junções dos tacos e tentando conter as lágrimas.

Ela me abraçou. Me abraçou forte, como se eu fosse a única pessoa que desse atenção a ela,mesmo que compartilhando coisas bobas. Senti o calor de seus pequenos braços, e seus cabelos roçavam em minhas roupas.

Abri os olhos, estava sozinha na cama. Apenas o teto me contemplando com o sol batendo em meus olhos. Mas ela ainda estava ali. Ela sempre estará, pois ela nunca deixou de ser eu.