sexta-feira, 23 de novembro de 2012 | By: Isis Cardoso

Lufadas.

A essa hora, você deve estar pensando nos outros braços que você vai enlaçar,
Na outra boca que vai provar o seu beijo, na outra pele que suas mãos vão tatear.

Enquanto isso, escrevo um texto, aqui distante, por sequer ter coragem de ir te olhar...
Dinheiro nem tanto é o problema, o dilema é o que vai me assombrar.
O teu nome disperso pelas paredes da cidade, sussurrado pelas lufadas de ar.
Alguém que não te quer tanto quanto eu te quis em breve estará ocupando o meu lugar.

O meu problema é sentir a tua falta, o meu problema é ainda te procurar
Tendo de volta uma resposta fria, sem nem um sorriso pra me aliviar.

Queria tanto esquecer, de dentro de mim tirar
O sorriso que tanto provoquei, o abismo do teu olhar.
Mas, em vez disso, sofro com as memórias de uma canção a ressoar.

"Não, eu não quero lembrar.
Eu não quero lembrar que eu fui pra você uma simples distração pra você esquecer, eu não quero lembrar que chegamos ao nosso fim.
Eu não quero lembrar que eu vou acordar sabendo que meus olhos não vão te encontrar, eu não quero lembrar que tudo acabou pra mim.
Vou te esquecer.
Por que você insiste em me dizer que ainda existe vida sem você?"

(trecho extraído de "Não quero lembrar" - Fresno)

terça-feira, 20 de novembro de 2012 | By: Isis Cardoso

Estratégias.

Iniciar novo jogo.

As peças são as mesmas, no entanto, a jogabilidade é mais árdua que o esperado.

No início, era só avançar; mas a cada movimento errado, uma perda no tabuleiro. Logo, os erros foram mais graves que os acertos e comprometeram as defesas.
A simplicidade se foi, mas restava a mobilidade, a força, o apelo divino e o dinamismo para virar o jogo.

Uma a uma, as táticas se desgastaram. A mobilidade se cansou, a força ruiu, o apelo divino foi contra e, sem suporte, o dinamismo era inválido perante um campo inimigo impenetrável.
Parecia fácil. Parecia amor, mas foi xeque-mate.

Iniciar novo jogo.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012 | By: Isis Cardoso

Encontro

Pequena e doce, ela sorri para mim com seus olhos brilhantes e seu sorriso brincalhão. Não sei se ela sabe quem eu sou, mas eu sei exatamente quem ela é.
Olho para baixo para ver se há algo de errado -ou até mesmo certo demais- comigo. Visto uma camiseta cinza, com uma camisa xadrez vermelha aberta e com as mangas dobrada até o cotovelo , cobrindo até o cós da calça jeans. Procuro ver se há algo errado com meus sapatos...mas estou descalça! E ela também, embora não se importe muito.
Ela veste um conjunto de listras verticais, e seus cachos tingidos de loiro estão presos em um grande e espesso rabo de cavalo. Parece gostar da sensação dos pés no chão de taco; parece também gostar de meus cachos ruivos tingidos repousando em meu ombro direito. Sorrio para ela, mas ela parece se espantar com meus bráquetes... Não são feios, apesar de eu não gostar deles.
Ela corre e logo volta, com um óculos na mão. Põe o óculos e sorri para mim, como se quisesse fantasiar-se de intelectual ou algo do tipo, o que me causou uma gargalhada.

"-Eu te conheço." - Ela disse.
"-Eu sei."-respondi com ternura
"-Sabia que eu tenho uma gaita?" - Ela me perguntou
"-Sério?! Nossa, eu não sei tocar gaita."
"-Ah, poxa... Mas é legal, pena que minha mãe não gosta de me ouvir tocando."
"-Relaxa, um dia ela vai ver que você leva jeito."
"-E você, leva jeito?"
"-Um pouco, sim."
"-Você tem um namorado?"

Abaixei os olhos. Havia me esquecido de como era essa sinceridade espontânea. Ela percebeu que eu fiquei triste, até que eu respondi:

"-Não... Não é fácil isso de ter um namorado."
"-Mas já teve?"
"-Alguns, sim."
"-Deve ser legal, né?"
"-É... Uma parte, sim. Mas as pessoas são estranhas."
"-Estranhas como?"
"-Estranhas. Igual cuscuz"
"-Eca, odeio cuscuz." - disse ela, mostrando a língua
"-Eu sei."
"-Você é legal."
"-Não muito... Mas agradeço mesmo assim."

Ela me olhou por alguns instantes, dessa vez com o rosto sério. Parecia faltar-lhe algo, pois seus olhos castanhos, outrora faiscantes, pareciam vazios.

"-Que houve?"
"-Não sei também. Me deu vontade de ficar quieta, do nada."
"-Acontece."
"-Eu vou te ver de novo?"
"-Não sei."
"-Eu queria te ver de novo, você é legal."
"-Você que é, e esses óculos também."
"-São do meu irmão, mas não conta pra ele." - cochichou
"-Uhum" - respondi, piscando o olho.
"-Fica aqui."- ela me pediu.
"-Desculpa."- eu disse, olhando para as junções dos tacos e tentando conter as lágrimas.

Ela me abraçou. Me abraçou forte, como se eu fosse a única pessoa que desse atenção a ela,mesmo que compartilhando coisas bobas. Senti o calor de seus pequenos braços, e seus cabelos roçavam em minhas roupas.

Abri os olhos, estava sozinha na cama. Apenas o teto me contemplando com o sol batendo em meus olhos. Mas ela ainda estava ali. Ela sempre estará, pois ela nunca deixou de ser eu.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012 | By: Isis Cardoso

Lugares.

A Bandeira Nacional tremulava, triunfante, ao horizonte coberto pelo céu límpido da primavera. "Finalmente, o lugar pra chamar de meu", pensou.

Seus olhos castanhos poucas vezes estiveram tão desapontados. Triste já fora diversas vezes, mas nunca recebeu choques de realidade tão confrontantes quanto nos últimos tempos.

Parecia não haver nada para chamar de seu no lugar de onde havia saído. Via sorrisos, gargalhadas, abraços e beijos, mas não havia amor na cidade. Os sorrisos eram artificiais, os beijos seguiam apenas impulsos, os abraços eram mecânicos, as gargalhadas eram de medo... Nada ali sentia o ardor do Sol, nada apreciava o cair da tarde, nada incentivava uma cantarolada na calçada ou o roubo de uma flor para causar um sorriso a alguém. Parecia tudo muito completo, estruturado, cinza, movimentado e até mesmo hipócrita naquela maquete de metrópole.

Talvez fosse por ser da cidade pequena, talvez fosse muita expectativa para pouca realidade ou finalmente percebeu que aquele não era o seu lugar.
Ali não haviam os rostos de sempre, as pessoas estranhas que observavam seu jeito de andar como se não pertencesse a lugar nenhum, o chão esburacado de um projeto de cidade, o "passa lá em casa" da feira de Domingo ou a grande bandeira nacional hasteada no horizonte.

Era apenas um lugar, mas não dava para chamar de seu.

domingo, 14 de outubro de 2012 | By: Isis Cardoso

Fogo

Fogo em meus cabelos
Fogo em meu olhar
Fogo que se acende ao querer contigo estar.

Eu te fiz um poema curto
Que nunca te entregarei a ler.
Vou sorrir por teu olhar
E da falta dele padecer.

Fogo que há no Sol
Fogo disperso pelo ar
Fogo que tua voz acende e teu gelo faz questão de apagar.

E agora, o que me resta?

Um lugar nebuloso para retornar,
As palavras engolidas que eu nunca vou falar
E as cinzas do fogo que outrora houve em meu olhar.

domingo, 7 de outubro de 2012 | By: Isis Cardoso

Folia

Milhares de corpos ao sol sorriam e requebravam-se ante o ritmo dos instrumentos de percussão. Mal parecia que aqueles corpos estavam fatigados de seus serviços, castigados pelo Sol, irritados pelos males de todos os dias e angustiados com a insegurança do futuro.

Todos pareciam muito alvoroçados, como em hipnose, pelos sons que se dissipavam na praça; todos menos ela. Havia alegria para todo lado e amor em todas as suas formas para quem pudesse ver, exceto para ela. Aquele alvoroço era uma tolice, acabaria em horas e todos voltariam à suas vidas irritadiças e melancólicas; todos sabiam, mas, ninguém se importava.

Ela não pertencia a lugar nenhum. Não tinha a identidade nos pés, o ritmo no corpo ou a ingenuidade de se entregar a uma felicidade de pão e circo. Mal era notada naquele tumulto, no entanto, a solidão é a rainha dos dias sem percussão e agito. A única rainha que não precisa de pompa, folia e circunstância para desfilar, pois já caminha diariamente à paisana entre os humanos.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012 | By: Isis Cardoso

Condição.

São só palavras pra você; mas para mim, não. É a minha alma exposta em uma lente de aumento, são todas as cores que minha existência forma, tal qual um caleidoscópio, não se pode evitar que as verdades escapam de mim no abismo que há entre pensar e sentir.

Se pra você não é nada, são só palavras bobas que eu digo para o vento porque sou um tanto imbecil... Por favor, pense que palavras repetidas podem significar muita coisa, principalmente as minhas palavras repetidas pra você, pois motivo eu sempre dou.

Se despedir, depois se encontrar, sabendo que nunca vai mudar o frenesi que sinto na espera em te ver seguido da agonia instantânea em saber que só em meu cérebro tenho chances perfeitas para pedir o beijo que tanto quero de sua boca. Por mais que eu diga, você nunca parece crer na verdade das minhas palavras enquanto ocorre a condição de estarmos os dois aqui. Você, com tão pouco a dizer e eu fingindo e rindo enquanto ironizo minha desgraça não tão oculta.

Ora, tantas pessoas são mais sentimentais que eu; tantas pessoas torcendo para ter o teu amor por meses, anos ou uma eternidade - não sei - enquanto eu tenho a audácia de querer apenas um momento para guardar. Não preciso aceitar a condição de ter você só pra mim, só quero poder aceitar a tua boca na minha de um modo que beire entre a paixão explosiva e o acaso do nunca mais.

Queria TANTO te dizer...

(baseado nas músicas "Esteja Aqui" - Fresno - e "Sentimental" - Los Hermanos)

segunda-feira, 10 de setembro de 2012 | By: Isis Cardoso

Joalheria.

Essa aliança no seu dedo... Eu queria ser ela. Ter seu olhar mais terno, sentir o calor da sua pele, ter o conforto do seu tato, estar contigo sempre, ser uma lembrança boas dos teus momentos que comigo nunca existirão.

Mas, em vez disso, eis-me aqui, como um diamante solitário, brilhando à toa por mendigarias da sua atenção, numa redoma aquém do seu alcance.
É muito triste ser como um diamante. Todos olham, sorriem, querem ter... Mas é raro surgir um ser de coragem e posses para adquiri-lo.

Eu seria feliz sendo sua aliança; contudo, me contento em ser um diamante na vitrine.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012 | By: Isis Cardoso

Desalento

Pra quê essa mão estendida
Se não há quem a possa segurar?
É chegada a hora da partida,
E só o que te resta é se apartar.

Pra quê esse olhar para o vento
Se não há quem o possa corresponder?
Não é necessário todo esse desalento,
Fique em silêncio e veja tudo se desfazer.

Pra quê essa lágrima corre
Se não há ombro que a possa amparar?
Por que tudo tem que seguir este esquema?

Onde enterram outra esperança que morre?
Agora, tudo volta a seu devido lugar
E eu silencio meus lamentos em mais um poema.

sábado, 11 de agosto de 2012 | By: Isis Cardoso

Aventura

Em meio ao tédio que me consome, resolvo correr no fim de tarde para esquecer do mundo. Esquecer os conceitos, os problemas, as pessoas (e suas palavras duplas), as responsabilidades, o passado, o presente e o futuro.

Não há nada a me prender além do chão, não há nada a almejar além do ar no meu rosto, soprando liberdade e inconsequência. No entanto, há um tudo a contemplar; desde os transeuntes à flora e fauna que nunca pensei encontrar tão perto de mim e longe de tudo.

Observo tudo, capturo tudo, sinto o chão deslizar veloz sob meus pés até desconhecer meu destino. Então, vem o desespero: há um lugar para voltar, um leque de circunstâncias que me prende mais que o tapete de piche abaixo de mim. Por instantes, não me parece tão boa a ideia de ser leve como uma pluma e me deixar levar pelo vento.

Procuro, em frenesi, por evidências que me façam voltar. Olho ao redor - não mais com o deslumbre de outrora, mas quase com um ar investigativo - e encontro os rastros da empreitada inconsequente gravados no firmamento. Em instantes, estou entre o real e o etéreo. Posso me esquecer para sempre até fenecer ou seguir meu rumo, triunfante pelo risco.

Contemplo os portais da terra do esquecimento e, veloz, sigo a rota de volta a meu recanto com um olhar assustado, o sangue fervilhando nos vasos, a boca seca, as pernas trêmulas, o coração hiperativo e o sorriso de quem faria toda essa estrepolia outra vez pela sensação ultrajante de sentir a vida correr pelo corpo.

Por fim, consegui esquecer de todas as minhas aflições e, mesmo que por alguns minutos, lembrar apenas da aventura que sempre almejei.


segunda-feira, 6 de agosto de 2012 | By: Isis Cardoso

Tolice.

Foi tolice acreditar nesse jogo de sedução inconstante e ilusório; e, logo agora que eu tento me encontrar, a lembrança dos teus olhos faz minha mente se perder.

Você deve achar todo esse espetáculo muito divertido, mas não dá pra mim. Eu preciso fugir de todas essas sensações antes que você me deixe no fundo do poço, isso sim.

Eu vou ser feliz, e farei isso longe dos seus olhos de abismo. Então, por favor, me deixe em paz e não surja no caminho que eu trilhar. Eu tenho uma vida, e ela não te inclui.

terça-feira, 31 de julho de 2012 | By: Isis Cardoso

Ilimitado

Crie asas, salte alto, corra sem cansar;
Não existe limites entre a terra e o ar
Quando se está entregue ao inconsciente
Tudo é permitido, nada é permanente.

Há também o lado sombrio da alma,
Onde se esquece de onde vem a calma
E todos os temores se tornam concretos
Em meio a momentos perigosos e incertos.

A vida e a morte,
O cômico e o trágico,
O lacrimoso e o medonho

Ao fechar os olhos e entregar-se à sorte.
Qualquer segundo pode ser mágico
No mundo ilimitado de um sonho.

domingo, 29 de julho de 2012 | By: Isis Cardoso

Horizonte.

Com seus olhos no mar e seu corpo no píer, contemplava o vazio da imensidão de sua mente que se expandia na nuance das águas.

Procurava em algum porto um lugar seguro, em uma pedra, uma ponte ou ali mesmo, à beira do píer. Sentia o sal adentrar suas narinas e descongestionar seus pulmões, mas não sentia o fôlego de vida no ato de respirar.

Anseava encontrar um destino em uma daquelas embarcações. Talvez sua vida estivesse lá, nas terras além do horizonte; poderia encontrar um novo amor para viver, um novo remédio para trazer de volta as emoções de seu coração frio e ôco.

Tudo poderia estar lá, mas ele estava apenas a ver navios.

(baseado em "Infinito" - Fresno e "Praia Nua" - Jorge Vercillo)

sábado, 14 de julho de 2012 | By: Isis Cardoso

Psicodelia

Tudo se confunde, não há sentido nos cinco sentidos. Sentir o olfato na pele, o tato na boca, os cenários com os ouvidos, os sussurros com os olhos...

Parece confuso demais quando o toque, mesmo que distante, permanece na pele; quando os sussurros ecoam no silêncio do sono e o gosto dos lábios entranha até nos talheres.

As cores se fundem, os corpos se anseiam. "Sentidos" não parecem ser explicativos quando por pouco se percebe o início de um e o fim do outro, numa atração forte como a gravidade atraindo a massa dos objetos ao centro da Terra.

Tudo parece se explicar e confundir em uma louca psicodelia à dois.

terça-feira, 3 de julho de 2012 | By: Isis Cardoso

Espreguiçar

Deixa o tempo escorrer,
Deixa o mundo se acabar,
O tempo é feito pra correr,
A gente é feito pra parar.

Não precisa tanta pressa,
Não precisa estremecer.
A gente é feito pra parar,
O tempo é feito pra correr.

Então deixa o tempo se espreguiçar
E se aninhe nos meus braços devagar,
Nem reflita se isso é insensatez.

Deixa eu me perder no seu sorriso
Sem tempo, espaço ou nada disso,
Sem pressa, trilhando um passo por vez.

sexta-feira, 1 de junho de 2012 | By: Isis Cardoso

Corrida.

As horas correm no relógio, os dedos correm pelo touchscreen, as fotos correm pela tela, as palavras correm pela memória...Mas eu quero tanto que essa vontade de te conquistar corra para fora de mim!

Corra, salte, voe, qualquer coisa, mas tire teu rosto dos meus sonhos, por favor; mesmo que eu tenha que correr para longe de mim, para longe de minhas visões oníricas, vontades, inconsciências ou até mesmo de meus pesadelos.

Você... Não apenas sendo alguém específico ou algum infortúnio de um passado próximo ou pouco distante. Apenas você, alegria ou agonia, sei lá... Portanto, corra pra fora de mim como o pus corre para fora da ferida inflamada. Saia enquanto estaciono na realidade e fecho os olhos para a consciência.

Um dia, devo atingir o bom senso, nirvana, imunização racional, santidade, iluminação, estatura da perfeição divina ou seja lá como quiser chamar essa paz que eu preciso. Até lá... Há uma carreira a correr, há uma vitória a alcançar.

quinta-feira, 31 de maio de 2012 | By: Isis Cardoso

Vultos.

Com seus elogios, jogos e motivos fingidos e superficiais, eles queriam uma chance de mostrá-la que eram diferentes... Mas era mentira, todos não passavam de borrões na paisagem, eram todos vultos obscuros que queriam-na apenas como um passatempo.

Todos iguais... Apenas sombras, nada mais. Queriam um relance, um jogo de luz, um flash repentino para assombrar o ambiente; e quando a luz do dia viesse, de repente, fugiriam como morcegos, cegos por sua natureza abissal.


Não eram diferentes, só eram insistentes. Ela fazia bem em evitá-los... Caso contrário, tornaria-se mais um vulto na penumbra.
sexta-feira, 25 de maio de 2012 | By: Sentimental Gothic.

Forever and Always;

Talvez seja egoísmo da minha parte não querer aceitar que já acabamos. É que é estranho pensar que você não sente mais nada por mim; você sempre disse que ia ser "pra sempre". Por mais que eu não gostasse de acreditar nessas palavras, você me fez acreditar. E eu comecei a gostar porque, vindas de você, essas palavras eram o meu mundo. O meu mundo inteiro. - Jaqueline Alana. 


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terça-feira, 8 de maio de 2012 | By: Isis Cardoso

Platonismo.

Ela olhou para ele e tudo o que aconteceu foi a mágica: Os olhares, os sorrisos, as respirações se aproximando, os olhos se fechando, os lábios se abrindo, as línguas se tocando, os corpos se colidindo. O toque dos dedos causava o arrepio da pele e o tempo parecia não passar. Eram segundos que viravam minutos, que quase viravam horas.Não havia mais nada, não havia mais ninguém. Ninguém devia satisfação de nada, eram apenas dois corpos envoltos na distância de um beijo. Um envolvente e aconchegante beijo que existia apenas na mente dela.

Ela olhou para ele e tudo o que aconteceu foi nada: Foi só um olhar, não foi tudo isso. Talvez um dia ela contasse dessa vontade avassaladora de compartilhar seus lábios com os dele, talvez um dia ele percebesse, talvez um dia ele pudesse corresponder...Sem muita certeza, sem muita expectativa e com dúvidas que sobrepujavam sua existência enquanto o sorriso dele fazia-a prender sorrisos abobados e suspiros absortos de vontade de dizer mais do que um sopro infeliz.

Ela olhou para ele e talvez ele nunca saiba o que ela sente, aprisionada pela timidez intrépida de seu platonismo infeliz.


quarta-feira, 25 de abril de 2012 | By: Isis Cardoso

Cores

Eu me fiz mar,
E me fiz sol, e terra, fogo e ar.
Me fiz grama pra você pisar,
Me colori em arco-íris pra te impressionar.

E em meio a esse oásis que criei,
A todo o paraíso que proporcionei,
Toda essa linda paisagem que te doei,
Todo espectro de cores que te dei

Preferistes o incerto,
Não quisestes ter a mim por perto,
Em meio à chuva preferistes ao deserto.

Então não farei chover,
Fique no deserto, ou onde escolher.
As minhas cores você não vai mais ver.


sexta-feira, 13 de abril de 2012 | By: Isis Cardoso

Adeus.

Eu te disse tudo, me abri para você e deixei você entrar; você me fez sentir bem, ao menos uma vez na vida...Se lembra de todas as coisas que queríamos? Agora todas as nossas memórias estão assombradas, nós fomos feitos pra dizer adeus. Eu já passei por isso antes. Agora tudo que me resta é o que eu finjo ser: Tão junta, mas tão quebrada por dentro ...

Um dia, eu acordarei e isso não vai mais machucar. Você me pôs em uma mentira, eu não tenho um álibi... as palavras que você diz não têm um significado. Você sabia exatamente o que iria fazer, só não diga que perdeu o rumo. Eles podem acreditar em você, mas eu nunca vou... nunca mais.


Eu sempre acreditei muito em nós dois; Primeiro em você, depois em mim... Éramos nós. Eu sempre quis fazer a minha parte, eu já enlouqueci querendo poder tocar seu rosto, mas a verdade continua a mesma... Você se foi. Você não faz mais parte da metade de nós dois, então... quer saber? Já foi, vou cuidar de mim. Quer saber? Eu quero alguém pra dividir, gostar de quem gosta de mim.
E você não verá as lágrimas que eu chorei por trás destes olhos castanhos. Essa é a última vez, acabou, você me perdeu.


("Already Gone" - Kelly Clarkson / "Behind These Hazel Eyes" - Kelly Clarkson / "Gone" - NSync* / "Hospital do Sofredor" - CPM 22 / "Já foi" - Jota Quest /  "Makes Me Wonder" - Maroon 5 / "Never Again" - Kelly Clarkson / "You Lost Me" - Christina Aguilera)
terça-feira, 20 de março de 2012 | By: Isis Cardoso

Boca Roxa





Ricardo Reis

“Bocas roxas de vinho, 
Testas brancas sob rosas, 
Nus, brancos antebraços 
Deixados sobre a mesa;

Tal seja, Lídia, o quadro 
Em que fiquemos, mudos, 
Eternamente inscritos
Na consciência dos deuses.

Antes isto que a vida
Como os homens a vivem
Cheia da negra poeira
Que erguem das estradas.

Só os deuses socorrem
Com seu exemplo aqueles
Que nada mais pretendem
Que ir no rio das coisas.

(Fernando Pessoa, 08/1915)
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012 | By: Isis Cardoso

Solidão



Aquela lufada fria de ar que bate no corpo do recém-nascido assim que ele sai do ventre materno, fazendo-o estranhar tudo ao redor e sentir-se desprotegido, é a solidão... E não se iluda, não é uma breve sensação de diferença climática, e o frio do corpo que toma a alma e assombra-a para sempre.

A lufada de vento frio, que causa mais danos que um furacão, é a certeza do vazio fatídico de alguns seres humanos. Mesmo com centenas de pessoas ao redor, mesmo ouvindo "eu te amo" repetidamente até a frase tornar-se mecânica, mesmo com paixões confusas e palavras bem colocadas... 

O frio e sibilante vento nunca cessa aos escolhidos da solidão.

Onde?

Estou longe de você,
Estou longe de mim,
Estou longe de tudo,
Onde está você, meu bem?
(Você está além de mim, ou de nós.)

Eu vejo as palavras,
Eu vejo as lembranças,
Eu vejo o vazio,
Onde está você, meu bem?
(Você está me partindo por dentro.)

Tão perto das mãos,
Tão longe dos olhos,
Tão longe na alma,
Onde está você, meu bem?
(Seu erro foi me deixar tão livre.)

Você não está aqui,
Você não está aí pra mim,
E sentirá minha falta
Ao perceber que me fui.
(Abra os olhos e me veja partir.)

Estou só no estio,
Estou só no vazio...
E você não está aqui.
Esqueça que eu existo, meu bem.

(EU PARTI.)
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012 | By: Isis Cardoso

Seus Olhos São Ainda Mais Bonitos Em Quarenta Polegadas

Não sei o quê ao certo que me afeta em você, me tira o controle e me faz ensandecer... Eu penso em mil maneiras pra poder te ter, mas não sei se eu consigo.

Todo mundo quer a mesma coisa que eu, todos tão reais diante de meu ser plebeu e eu penso se um dia o teu beijo será meu, mas não sei se consigo.

Então, olho de longe sem nada a acrescentar; olho bem de longe para não incomodar, longe o suficiente para o teu olhar não cruzar com a insegurança do meu.

Não sei porque todos desejam o prazer de ter você, de estar a seu dispor à serviço do seu prazer... Eu penso em mil maneiras para te esquecer, mas sei que não consigo.

Embora todos estejam mais próximos que eu, mais privilegiados que meu pobre ser plebeu que de olhos abertos sonha com um beijo teu, mas não sei se consigo.

Eu insisto, persisto, desisto, mas você me provoca a voltar a insistir em querer o calor da tua pele; e sei que mesmo que todos também queiram, eu vou conseguir.

Risos Ácidos



Risos ácidos escorrem de meus lábios com uma alegria destrutiva e uma melancolia que corroi e traz a cada certeza minha o fim; entre o deslumbramento e o caos, o ar cáustico de meus pulmões traz a meu corpo uma dor que doi demais para mim.

Os meus olhos nebulosos, com as dúvidas que permeiam minha alma através do cotidiano, vão além do que se vê: a tristeza, a alegria, a paz e a agonia, madrugada, tarde e dia, minha mente fantasia com você - mesmo sem saber quem é você.

A acidez no sorriso traz toda a dor por dentro, o som bobo que sai da boca exorciza o sofrimento que me toma cada vez que me perco na escuridão quando vem a noite fria e ninguém me vê; quando não há mais respostas pra tanto porquê o desejo pelo erro cicatriza as mágoas do coração.

Por cada um que se foi e nunca mais voltará, por cada um que não foi - mas eu quero que se vá -, por cada um que eu quis e para quem eu quero agora: em cada sonho plácido em que me procurar todos os risos ácidos terão o seu lugar no meu mundo de dentro e no mundo afora.
sábado, 4 de fevereiro de 2012 | By: Isis Cardoso

Simples

Ele sorria para mim naquela tarde de Sol e tudo parecia mais bonito. Toda aquele brilho em seu olhar, sua timidez desafiadora e suas poucas palavras eram mais do que tudo o que eu já havia visto no decorrer do dia.
Era mais sincero do que qualquer discurso, mais eloquente que qualquer equação, mais completo que qualquer sinfonia que pudesse adentrar meu cérebro através de meus ouvidos.

Ainda havia o resto do dia, o resto do mês, do ano e até mesmo o resto da vida, mas aquele sorriso anulava a importância de todo este resto. Aquilo era a realidade, a beleza de verdade exposta diante de meus olhos. Era a vida faiscando em seu resplendor, a alegria da simplicidade, o momento que se vai antes até de ser percebido.

Ele sorria para mim, com seus três anos de idade e com toda a sua alegria em um copo de refrigerante. E eu sorria para ele e resgatando a beleza que há em ser feliz em algo simples.


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012 | By: Isis Cardoso

Açoite

Mais uma noite mal dormida pela frente, 
Com o teu beijo apenas em minha mente,
Sem ocorrência alguma de tal fato,
Sem consumar minha vontade de tal ato.

Mais uma vez, abraçarei o travesseiro
Sem o calor de tua pele, sem teu cheiro.
Apenas com o anseio de que aconteça,
Com teu sorriso preso em minha cabeça.

Mais uma noite em que suspiro,
Que depressa eu respiro
No delírio do desejo

Que termine esse açoite
E que só por uma noite
Eu possa provar teu beijo.


segunda-feira, 30 de janeiro de 2012 | By: Isis Cardoso

Vontade.


Naquela noite, tudo parecia muito estranho. Foi só uma dose, ou foram duas, ele já não lembrava... Mas, mesmo estando semi sóbrio, não conseguia tirar aqueles olhos de seu pensamento.
Sua vontade era esquecer todo o resto, largar a educação, a moral, os bons constumes, tudo mais que tanto conservava em público só por uma noite, só por aquela noite.
Queria ser sincero, puxá-la para um local quieto e beijar aquele par de lábios até a hora se tornar um problema. Queria sentir o calor de sua pele não apenas na ponta de seus dedos, mas na palma de suas mãos.
Queria sentir de perto o cheiro de seus cabelos e ouvir apenas a marcação rítmica das respirações ofegantes no silêncio da noite.
Infelizmente, não era possível. Havia todo o resto: as pessoas, a falta de um lugar silencioso e a etílica falta de jeito dele impediam que qualquer sequência de palavras tivesse seu real significado interpretado.
As únicas coisas que restaram-lhe naquela noite foram apenas a vontade de vê-la novamente, um abraço, um sorriso e os olhos que não sairiam de sua mente tão cedo.


quinta-feira, 19 de janeiro de 2012 | By: Isis Cardoso

Mistério

Entre o belo e o horrendo,
O produto e o dividendo,
Entre o corpo e o chão,
O pecado e o perdão.

Entre o comum e o esquisito,
O lembrado e o esquecido,
Entre o sacro e o profano,
Nada além de um ser humano.

Entre o mono e o estério,
O engraçado e o sério,
A névoa e o caos aéreo,

O concreto e o etéreo,
O hospital e o cemitério
Está a vida em mistério.