sábado, 11 de agosto de 2012 | By: Isis Cardoso

Aventura

Em meio ao tédio que me consome, resolvo correr no fim de tarde para esquecer do mundo. Esquecer os conceitos, os problemas, as pessoas (e suas palavras duplas), as responsabilidades, o passado, o presente e o futuro.

Não há nada a me prender além do chão, não há nada a almejar além do ar no meu rosto, soprando liberdade e inconsequência. No entanto, há um tudo a contemplar; desde os transeuntes à flora e fauna que nunca pensei encontrar tão perto de mim e longe de tudo.

Observo tudo, capturo tudo, sinto o chão deslizar veloz sob meus pés até desconhecer meu destino. Então, vem o desespero: há um lugar para voltar, um leque de circunstâncias que me prende mais que o tapete de piche abaixo de mim. Por instantes, não me parece tão boa a ideia de ser leve como uma pluma e me deixar levar pelo vento.

Procuro, em frenesi, por evidências que me façam voltar. Olho ao redor - não mais com o deslumbre de outrora, mas quase com um ar investigativo - e encontro os rastros da empreitada inconsequente gravados no firmamento. Em instantes, estou entre o real e o etéreo. Posso me esquecer para sempre até fenecer ou seguir meu rumo, triunfante pelo risco.

Contemplo os portais da terra do esquecimento e, veloz, sigo a rota de volta a meu recanto com um olhar assustado, o sangue fervilhando nos vasos, a boca seca, as pernas trêmulas, o coração hiperativo e o sorriso de quem faria toda essa estrepolia outra vez pela sensação ultrajante de sentir a vida correr pelo corpo.

Por fim, consegui esquecer de todas as minhas aflições e, mesmo que por alguns minutos, lembrar apenas da aventura que sempre almejei.


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