Era meia noite.
A televisão fazia-lhe
companhia na noite solitária. Outra noite solitária, só para variar. Uma xícara
de café do lado esquerdo, um álbum melancólico nos ouvidos, um punhado de
palavras escorregando por seus dedos e claro, a solidão.
Buscava algo que fizesse
sentido em sua vã existência. Sem quatro ou seis cordas correndo por seus
dedos, a vida não parecia tão grande coisa assim. O amor era uma realidade
muito distante, a tristeza era quase uma constante que disfarçava com um pouco
de humor ácido – o que ultimamente não enganava nem a seu próprio semblante. A cada
minuto, parecia que o mal alastrava-se em seu corpo e não havia remédio que
curasse este mal, nem veneno que pudesse mata-lo.
A música em seus ouvidos
dizia que as luzes seriam seu guia para casa e acenderiam seus ossos, mas... o
que era a sua casa? Na verdade, o que era seu lar? Não sabia o que era
confiável, afinal, não possuía confiança sequer no próprio cérebro. Ele era o
vilão de tudo. Sem ele, seria um ser
vegetativo, mas ultimamente a massa cinzenta só ampliava conteúdo negativo
dentro de si e aquilo não estava nada bom.
E claro, a solidão se
propagava na velocidade do som ou até mesmo da luz. Sempre era veloz demais
para tentar pará-la. Era mais veloz que sua vontade de fazê-la parar e ver que
a vida talvez pudesse ser um pouco melhor sem ela, suas pernas eram
demasiadamente curtas para a ousadia de tentar correr de encontro a cada um de
seus medos – e seu principal medo era o mal que afligia todos os dias de sua
vida desde que se entendia por gente.
Era só uma noite como
todas.