quarta-feira, 23 de junho de 2010 | By: Isis Cardoso

Fazer


Ela está cansada dos idiotas que aparecem não querendo nada além de casualidade, ele não tem expectativa de nada e há tempos está sem ninguém. Parecem improvável o fato de suas vidas se cruzarem, mas tudo começa a acontecer quando eles trocam os olhares pela primeira vez, e o mundo parece um lugar melhor, mais luminoso, mais feliz, mais limpo... absurdamente perfeito ! Mas nunca se falaram . É somente uma contemplação mútua, mas um parece sentir a atração que o outro exerce sobre ele mesmo em cantos opostos de um recinto .

Caminham como se parecessem predestinados, e se esbarram no auge de sua distração . O diálogo fútil se inicia: quem é você, quantos anos tem, onde mora. Troca de informações primárias, conversa sutil, os olhares falam mais do que as palavras por si . Trocam endereços de mensagem instantânea, e cada um deve partir para seu lado novamente, como uma sina que os afasta .


Então, todos os dias, se encaram na frente de uma tela e sorriem como se o outro pudesse ver a plenitude de seus sorrisos. Dizem coisas bonitas, engraçadas, sem senido nenhum um ao outro e ficam felizes em ver seus rostos em uma projeção digital . Sentem vontade de se ver cada vez mais, a distância os deixa desassossegados. Precisam um do outro como o coração precisa das veias, e isso parece pouco . Então entram em um acordo mútuo de se encontrarem .


  Se encontram uma vez, e esse encontro não foi tão bom . O nervosismo impediu a espontaneidade. Um próximo encontro é marcado. E mais um, e mais um, e mais um . De repente,  um faz a alegria do outro . Se apaixonaram sem fazer o mínimo esforço para isso. Cinema, café, restaurante, praça, shopping... Todos os lugares se tornam melhores quando eles estão juntos, mas seus lábios ainda não se tocaram , e daí vem o anseio por mais.

 Até que em uma bela e estrelada noite eles se encontram, como de costume. Conversam, riem, se divertem e quando menos percebem estão em silêncio e cada vez mais próximos. As faíscas se acendem, as borboletas voam, os sinos soam, o chão parece não existir e os lábios de ambos se movem como se fossem feitos para estar juntos.
.

  Então eles namoram, desmancham, desencontram, retornam mais apaixonados ainda, noivam, casam, fazem sexo, têm filhos e ficam juntos até que a morte os separe.


 E isso é o que chamam de fazer amor. Pela vida inteira.

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