Era um dia tedioso, nada havia para ser feito. Na verdade, havia milhares de coisas, mas nada fazia sentido. O Sol brilhava, os pássaros cantavam, os cães latiam, os vendedores vendiam, as crianças tomavam banho de mangueira, os gatos fugiam da água, as fofoqueiras fofocavam, as beatas carregavam suas crianças para as igrejas o dia inteiro, mas era tudo tão tedioso ... tão normal ! Faltava algo para diferenciar este dia.
Entrando em um automóvel, mais ainda dava pra perceber que a vida lá fora era uma celebração, mas os convites esgotaram, então algumas pessoas ficaram de fora, olhando insatisfeitas e indiferentes ao espetáculo que acontecia diante dos seus olhos.
Os doces, que para todos nós, seres humanos, são um alívio, naquele dia eram como placebos: em nada melhoravam o dia. Uma bala, duas, três, um pacote, dois... O cuidado era apenas não vomitar com o excesso de doces, nem com a vida enjoativamente feliz lá fora.
Em busca de um sentido para aquele dia, olhar o Sol parecia uma boa alternativa para burlar a monotonia daquele dia chato . As crianças ainda brincavam, os idosos olhavam a rua, os rapazes paqueravam, as moças desprezavam ou davam recíproca, se ouvia música, mesmo assim, ainda não se achava uma solução para um dia tão belo e tão maçante.
De volta à estaca zero, sentir cada partícula de sua humanidade ser consumida pelo ócio era todo o necessário, afinal, já era o fim da tarde, o dia não custaria a terminar. Até que ...
O telefone tocou, aquela voz maravilhosa ecoou pela mente e todo o dia fez sentido .
Puxa, esplêndido dia, não ?