sábado, 10 de julho de 2010 | By: Isis Cardoso

Noite Fria


Numa noite fria, saio pra descontrair com um amigo, esqueço até que é dia dos namorados. Tudo o que eu quero é tirar o vazio de dentro de mim. O vazio que ela deixa em cada palavra, cada sorriso,o jeito que ela me deixa pensativo ... e ela nem é minha !

Chegando em meu habitual ponto de escape, a praça, pego meu skate para andar e abstrair tudo isso. Mas antes que meus pés deslizassem na prancha, seu par de olhos castanhos me surpreende. Tento ignorar, com certeza é coisa da minha mente. É dia dos namorados e ela, com certeza, está com ele. Sim, ele que não a merece, ele que a deixa saturada e que não tem a capacidade de conquistá-la com cada pequeno gesto, como eu faço . Não é soberba, ela própria enumera todas essas razões para não estar mais com ele em breve.

Mas, enquanto me locomovo e tento, com desempenho péssimo, um salto, caio com meu rosto no chão e posso ouvir em alto som sua risada. Fiz papel de bobo ao cair em sua frente? Sim, porém mais ainda em achar que poderia ter uma chance enquanto ela estava envolta nos braços dele. Ela sorriu, e pude ver seus olhos brilhando em minha direção enquanto eu olhava para ela e ela me apresentava ao namorado dela .

Tudo bem , eu não tinha o direito de reclamar, afinal, eu não estava sozinho .

Continuei a minha " atividade recreativa" normalmente, mas não dava para não prestar atenção nela, ela queria ser observada, queria um sorriso, queria um olhar. E eu estava sucumbindo à suas vontades silenciosas, mesmo que ela tivesse que fingir que nada poderia acontecer entre nós, ou que ela estivesse, como uma criança, desesperada pela minha atenção . Eu simplesmente não pude resistir.

Então, ela levantou-se para ir embora, com ele. E eu achei que minha tentação iria acabar naquele instante, me veio um misto de alívio e tristeza. Alívio porque eu não teria que assistir àquela tortura, mas tristeza porque aquele olhar desafiador e ao mesmo tempo inocente, aquele sorriso zombeteiro, aquele corpo de mulher com jeito de menina iria embora, e eu estaria à sós com o meu amigo. Nossa, que conforto.

Mas ela não iria embora sem antes me dirigir a palavra, eu SABIA . Ela veio, disse meia dúzia de palavras bobas, com olhar de quem não está dizendo nada do que estava saindo de sua boca. E quando ela sorria pra mim, era como uma criança prestes a cometer uma travessura, era breve e quase imperceptível para quem estava de fora. Eu sabia o que ela queria dizer, naquele dia dos namorados, a poucos metros de distância do namorado dela. E ela sabia que aquele dia dos namorados foi bom, não porque ela não estava sozinha, mas porque eu estava lá .




E naquela noite fria eu dormi com o coração mais aquecido .

0 centenas de milhares de comentários: