Em meio ao tédio que me consome, resolvo correr no fim de tarde para esquecer do mundo. Esquecer os conceitos, os problemas, as pessoas (e suas palavras duplas), as responsabilidades, o passado, o presente e o futuro.
Não há nada a me prender além do chão, não há nada a almejar além do ar no meu rosto, soprando liberdade e inconsequência. No entanto, há um tudo a contemplar; desde os transeuntes à flora e fauna que nunca pensei encontrar tão perto de mim e longe de tudo.
Observo tudo, capturo tudo, sinto o chão deslizar veloz sob meus pés até desconhecer meu destino. Então, vem o desespero: há um lugar para voltar, um leque de circunstâncias que me prende mais que o tapete de piche abaixo de mim. Por instantes, não me parece tão boa a ideia de ser leve como uma pluma e me deixar levar pelo vento.
Procuro, em frenesi, por evidências que me façam voltar. Olho ao redor - não mais com o deslumbre de outrora, mas quase com um ar investigativo - e encontro os rastros da empreitada inconsequente gravados no firmamento. Em instantes, estou entre o real e o etéreo. Posso me esquecer para sempre até fenecer ou seguir meu rumo, triunfante pelo risco.
Contemplo os portais da terra do esquecimento e, veloz, sigo a rota de volta a meu recanto com um olhar assustado, o sangue fervilhando nos vasos, a boca seca, as pernas trêmulas, o coração hiperativo e o sorriso de quem faria toda essa estrepolia outra vez pela sensação ultrajante de sentir a vida correr pelo corpo.
Por fim, consegui esquecer de todas as minhas aflições e, mesmo que por alguns minutos, lembrar apenas da aventura que sempre almejei.