segunda-feira, 12 de novembro de 2012 | By: Isis Cardoso

Encontro

Pequena e doce, ela sorri para mim com seus olhos brilhantes e seu sorriso brincalhão. Não sei se ela sabe quem eu sou, mas eu sei exatamente quem ela é.
Olho para baixo para ver se há algo de errado -ou até mesmo certo demais- comigo. Visto uma camiseta cinza, com uma camisa xadrez vermelha aberta e com as mangas dobrada até o cotovelo , cobrindo até o cós da calça jeans. Procuro ver se há algo errado com meus sapatos...mas estou descalça! E ela também, embora não se importe muito.
Ela veste um conjunto de listras verticais, e seus cachos tingidos de loiro estão presos em um grande e espesso rabo de cavalo. Parece gostar da sensação dos pés no chão de taco; parece também gostar de meus cachos ruivos tingidos repousando em meu ombro direito. Sorrio para ela, mas ela parece se espantar com meus bráquetes... Não são feios, apesar de eu não gostar deles.
Ela corre e logo volta, com um óculos na mão. Põe o óculos e sorri para mim, como se quisesse fantasiar-se de intelectual ou algo do tipo, o que me causou uma gargalhada.

"-Eu te conheço." - Ela disse.
"-Eu sei."-respondi com ternura
"-Sabia que eu tenho uma gaita?" - Ela me perguntou
"-Sério?! Nossa, eu não sei tocar gaita."
"-Ah, poxa... Mas é legal, pena que minha mãe não gosta de me ouvir tocando."
"-Relaxa, um dia ela vai ver que você leva jeito."
"-E você, leva jeito?"
"-Um pouco, sim."
"-Você tem um namorado?"

Abaixei os olhos. Havia me esquecido de como era essa sinceridade espontânea. Ela percebeu que eu fiquei triste, até que eu respondi:

"-Não... Não é fácil isso de ter um namorado."
"-Mas já teve?"
"-Alguns, sim."
"-Deve ser legal, né?"
"-É... Uma parte, sim. Mas as pessoas são estranhas."
"-Estranhas como?"
"-Estranhas. Igual cuscuz"
"-Eca, odeio cuscuz." - disse ela, mostrando a língua
"-Eu sei."
"-Você é legal."
"-Não muito... Mas agradeço mesmo assim."

Ela me olhou por alguns instantes, dessa vez com o rosto sério. Parecia faltar-lhe algo, pois seus olhos castanhos, outrora faiscantes, pareciam vazios.

"-Que houve?"
"-Não sei também. Me deu vontade de ficar quieta, do nada."
"-Acontece."
"-Eu vou te ver de novo?"
"-Não sei."
"-Eu queria te ver de novo, você é legal."
"-Você que é, e esses óculos também."
"-São do meu irmão, mas não conta pra ele." - cochichou
"-Uhum" - respondi, piscando o olho.
"-Fica aqui."- ela me pediu.
"-Desculpa."- eu disse, olhando para as junções dos tacos e tentando conter as lágrimas.

Ela me abraçou. Me abraçou forte, como se eu fosse a única pessoa que desse atenção a ela,mesmo que compartilhando coisas bobas. Senti o calor de seus pequenos braços, e seus cabelos roçavam em minhas roupas.

Abri os olhos, estava sozinha na cama. Apenas o teto me contemplando com o sol batendo em meus olhos. Mas ela ainda estava ali. Ela sempre estará, pois ela nunca deixou de ser eu.

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