sexta-feira, 26 de outubro de 2012 | By: Isis Cardoso

Lugares.

A Bandeira Nacional tremulava, triunfante, ao horizonte coberto pelo céu límpido da primavera. "Finalmente, o lugar pra chamar de meu", pensou.

Seus olhos castanhos poucas vezes estiveram tão desapontados. Triste já fora diversas vezes, mas nunca recebeu choques de realidade tão confrontantes quanto nos últimos tempos.

Parecia não haver nada para chamar de seu no lugar de onde havia saído. Via sorrisos, gargalhadas, abraços e beijos, mas não havia amor na cidade. Os sorrisos eram artificiais, os beijos seguiam apenas impulsos, os abraços eram mecânicos, as gargalhadas eram de medo... Nada ali sentia o ardor do Sol, nada apreciava o cair da tarde, nada incentivava uma cantarolada na calçada ou o roubo de uma flor para causar um sorriso a alguém. Parecia tudo muito completo, estruturado, cinza, movimentado e até mesmo hipócrita naquela maquete de metrópole.

Talvez fosse por ser da cidade pequena, talvez fosse muita expectativa para pouca realidade ou finalmente percebeu que aquele não era o seu lugar.
Ali não haviam os rostos de sempre, as pessoas estranhas que observavam seu jeito de andar como se não pertencesse a lugar nenhum, o chão esburacado de um projeto de cidade, o "passa lá em casa" da feira de Domingo ou a grande bandeira nacional hasteada no horizonte.

Era apenas um lugar, mas não dava para chamar de seu.

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