terça-feira, 21 de maio de 2013 | By: Isis Cardoso

Cinzeiro.

Olhava para o ceu quase negro e tragava a fumaça de mais um cigarro. Se era o sexto ou o nono, não importava mais, fazia aquilo para exorcizar seus demônios ou buscar uma morte mais rápida, o que viesse primeiro.

Cerrava seu cenho enquanto seus olhos vazios contemplavam a janela. Era escuro como seus sonhos, sua vida e -se continuasse naquela perspectiva- seus pulmões. Não havia mais nada que trouxesse-lhe a alegria, não havia um motivo para mostrar seu sorriso outrora manchado apenas pelo café. No rosto, uma barba da sexta-feira, na televisão um programa imbecil de entretenimento dominical.

Já não cria em Deus ou no diabo, muito menos em Darwin ou Lavoisier. Não cria na satisfação consumista nem na igualdade utópica do socialismo. Nenhuma crença traria a vida de volta a seu fôlego, nada motivava a produtividade de seus dias.
Todas as portas pareciam iguais, todo crime e todo castigo no fundo parecia nada. Ela morreu diante de seus olhos há um ano ou dois, se ele bem conseguia esquecer. Com um tiro no peito e sangue ao seu redor, uma vítima do caos urbano. Seu último pedido foi "seja feliz, mesmo que eu não possa sorrir contigo", mas ele não conseguiu.

Sua alegria fora alvejada e o que restava era apenas existir, vazio e com a alma amargurada entre as cinzas de seus cigarros e seus pensamentos.

0 centenas de milhares de comentários: