domingo, 7 de outubro de 2012 | By: Isis Cardoso

Folia

Milhares de corpos ao sol sorriam e requebravam-se ante o ritmo dos instrumentos de percussão. Mal parecia que aqueles corpos estavam fatigados de seus serviços, castigados pelo Sol, irritados pelos males de todos os dias e angustiados com a insegurança do futuro.

Todos pareciam muito alvoroçados, como em hipnose, pelos sons que se dissipavam na praça; todos menos ela. Havia alegria para todo lado e amor em todas as suas formas para quem pudesse ver, exceto para ela. Aquele alvoroço era uma tolice, acabaria em horas e todos voltariam à suas vidas irritadiças e melancólicas; todos sabiam, mas, ninguém se importava.

Ela não pertencia a lugar nenhum. Não tinha a identidade nos pés, o ritmo no corpo ou a ingenuidade de se entregar a uma felicidade de pão e circo. Mal era notada naquele tumulto, no entanto, a solidão é a rainha dos dias sem percussão e agito. A única rainha que não precisa de pompa, folia e circunstância para desfilar, pois já caminha diariamente à paisana entre os humanos.

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