sexta-feira, 3 de dezembro de 2010 | By: Isis Cardoso

Casulo.

Era inteligente, e capaz de discutir sobre qualquer assunto, sem pestanejar. Conseguia expôr seu ponto de vista nem que para isso precisasse desenhar - coisa que fazia mais por hobby que por dom.

Impressionantemente, todo aquele conteúdo vinha em uma embalagem ainda melhor.

"Sorriso encantador, olhar sedutor, jeito de menina e corpo de mulher... e que mulher!"

Este era o comentário de qualquer homem sem parentesco direto que tivesse alguma ligação com ela.

Mas era um engano achar que a fala de menina tornava-a boba. Malícia tinha, e muita. Cada olhar, cada frase, cada riso ou até mesmo cada suspiro tinha uma subliminaridade, uma subjetividade que pedia para ser desvendada. Ela sabia que da maneira certa poderia usar seus benefícios - tanto físicos quanto intelectuais - para conseguir qualquer coisa. Qualquer coisa mesmo.

Faltava-lhe, entretanto, a confiança. Não tinha coragem de ser óbvia, de ir direto ao assunto quando se tratava do jogo da conquista. Não conseguia abandonar seus escrúpulos por um momento sequer. E quando tentava, o riso manifestava, as pallavras fugiam, o olhar direcionava-se para baixo e a fala travava em uma inevitável gagueira.

Apesar da timidez, era uma moça encantadora. Sabia ironizar, tentava manter a calma na maioria do tempo, guardava seus amigos com unhas e dentes - mesmo que para isso às vezes escapassem verdades ácidas - , era boa para com a família o tempo quase todo e as pequenas meninas de sua igreja queriam ser como ela quando crescessem.

Todavia, perdia o jeito com um elogio, ou até mesmo um olhar mais atrevido. Fechava-se o sorriso em um dia ensolarado se flagrasse algum expectador assistindo ininterruptamente ao movimento de seu corpo ao caminhar. Enfurecia-se quando ouvia uma frase mais ousada direcionada a ela, mesmo evitando ao máximo passar em portas de botequins. Indignava-se com os jargões como "que isso" ou "linda", principalmente quando estava vestida desleixadamente em lugar público. Achava que a palavra "gostosa" era um equívoco quando direcionada à ela, e pensava que todos - e até mesmo algumas - que se diziam sem fôlego ao imaginá-la em roupas simples, como short e regata básica, só diziam isso para agradá-la.

Era um curioso caso de mulher que não havia saído do casulo de menina. Pobres eram os que incessantemente aguardavam essa transição... Mal sabiam o mal que uma devoradora de homens lacrada a sete chaves poderia causar ao libertar-se.

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