sexta-feira, 26 de outubro de 2012 | By: Isis Cardoso

Lugares.

A Bandeira Nacional tremulava, triunfante, ao horizonte coberto pelo céu límpido da primavera. "Finalmente, o lugar pra chamar de meu", pensou.

Seus olhos castanhos poucas vezes estiveram tão desapontados. Triste já fora diversas vezes, mas nunca recebeu choques de realidade tão confrontantes quanto nos últimos tempos.

Parecia não haver nada para chamar de seu no lugar de onde havia saído. Via sorrisos, gargalhadas, abraços e beijos, mas não havia amor na cidade. Os sorrisos eram artificiais, os beijos seguiam apenas impulsos, os abraços eram mecânicos, as gargalhadas eram de medo... Nada ali sentia o ardor do Sol, nada apreciava o cair da tarde, nada incentivava uma cantarolada na calçada ou o roubo de uma flor para causar um sorriso a alguém. Parecia tudo muito completo, estruturado, cinza, movimentado e até mesmo hipócrita naquela maquete de metrópole.

Talvez fosse por ser da cidade pequena, talvez fosse muita expectativa para pouca realidade ou finalmente percebeu que aquele não era o seu lugar.
Ali não haviam os rostos de sempre, as pessoas estranhas que observavam seu jeito de andar como se não pertencesse a lugar nenhum, o chão esburacado de um projeto de cidade, o "passa lá em casa" da feira de Domingo ou a grande bandeira nacional hasteada no horizonte.

Era apenas um lugar, mas não dava para chamar de seu.

domingo, 14 de outubro de 2012 | By: Isis Cardoso

Fogo

Fogo em meus cabelos
Fogo em meu olhar
Fogo que se acende ao querer contigo estar.

Eu te fiz um poema curto
Que nunca te entregarei a ler.
Vou sorrir por teu olhar
E da falta dele padecer.

Fogo que há no Sol
Fogo disperso pelo ar
Fogo que tua voz acende e teu gelo faz questão de apagar.

E agora, o que me resta?

Um lugar nebuloso para retornar,
As palavras engolidas que eu nunca vou falar
E as cinzas do fogo que outrora houve em meu olhar.

domingo, 7 de outubro de 2012 | By: Isis Cardoso

Folia

Milhares de corpos ao sol sorriam e requebravam-se ante o ritmo dos instrumentos de percussão. Mal parecia que aqueles corpos estavam fatigados de seus serviços, castigados pelo Sol, irritados pelos males de todos os dias e angustiados com a insegurança do futuro.

Todos pareciam muito alvoroçados, como em hipnose, pelos sons que se dissipavam na praça; todos menos ela. Havia alegria para todo lado e amor em todas as suas formas para quem pudesse ver, exceto para ela. Aquele alvoroço era uma tolice, acabaria em horas e todos voltariam à suas vidas irritadiças e melancólicas; todos sabiam, mas, ninguém se importava.

Ela não pertencia a lugar nenhum. Não tinha a identidade nos pés, o ritmo no corpo ou a ingenuidade de se entregar a uma felicidade de pão e circo. Mal era notada naquele tumulto, no entanto, a solidão é a rainha dos dias sem percussão e agito. A única rainha que não precisa de pompa, folia e circunstância para desfilar, pois já caminha diariamente à paisana entre os humanos.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012 | By: Isis Cardoso

Condição.

São só palavras pra você; mas para mim, não. É a minha alma exposta em uma lente de aumento, são todas as cores que minha existência forma, tal qual um caleidoscópio, não se pode evitar que as verdades escapam de mim no abismo que há entre pensar e sentir.

Se pra você não é nada, são só palavras bobas que eu digo para o vento porque sou um tanto imbecil... Por favor, pense que palavras repetidas podem significar muita coisa, principalmente as minhas palavras repetidas pra você, pois motivo eu sempre dou.

Se despedir, depois se encontrar, sabendo que nunca vai mudar o frenesi que sinto na espera em te ver seguido da agonia instantânea em saber que só em meu cérebro tenho chances perfeitas para pedir o beijo que tanto quero de sua boca. Por mais que eu diga, você nunca parece crer na verdade das minhas palavras enquanto ocorre a condição de estarmos os dois aqui. Você, com tão pouco a dizer e eu fingindo e rindo enquanto ironizo minha desgraça não tão oculta.

Ora, tantas pessoas são mais sentimentais que eu; tantas pessoas torcendo para ter o teu amor por meses, anos ou uma eternidade - não sei - enquanto eu tenho a audácia de querer apenas um momento para guardar. Não preciso aceitar a condição de ter você só pra mim, só quero poder aceitar a tua boca na minha de um modo que beire entre a paixão explosiva e o acaso do nunca mais.

Queria TANTO te dizer...

(baseado nas músicas "Esteja Aqui" - Fresno - e "Sentimental" - Los Hermanos)